“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.” Bill Gates
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sábado, 15 de junho de 2013

A Última Crônica de Fernando Sabino

Sequência didática: Uma sugestão para trabalhar na sala de aula


1Levantamento de hipóteses/ ampliando conhecimentos
* mapear o conhecimento prévio dos alunos baseando-se nas seguintes questões;
*Você sabe o que é uma crônica?
* Você já leu alguma crônica?
* Em que lugar as crônicas são veiculadas?

2 Antes de entregar o texto  apresentar o título do texto “ A última crônica” de Fernando Sabino, provocar um debate em sala;
*esse título chama a atenção do leitor? Por quê?
* o que ele sugere?
* pelo título dá para imaginar o assunto do texto?
3 Estimular  o aluno para a leitura, ativando os conhecimentos prévios;
·         Como você comemora oseu aniversário?
·         As pessoas mais queridas lembram-se de seu aniversário, ou esquecem?
·         Quem não poderia faltar em sua festa, se caso fizesse?
·         Você já comemorou um aniversário de forma estranha, diferente?
4 Apresentar o texto ao aluno ;

A última crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
“Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.”
Fernando Sabino




·         Fazer a leitura silenciosa e posteriormente coletiva.
·          Perguntar o que mudou sobre a percepção do texto após a leitura.
·         Pesquisar no dicionário as palavras desconhecidas, para o melhor entendimento do texto.
·         Fazer uma abordagem da realidade social.
5Atividades  propostas sobre o texto, compreensão e interpretação;
1-      Que tipo de narrador o texto apresenta? Justifique sua resposta.
2-      Informações do texto;
a)      Quem entra no botequim?
b)      Onde fica o botequim?
c)       Ele entra no botequim para que?
d)      O que ele deseja?
e)      Quem são os “três seresesquivos”?
f)       O que eles fazem ali no botequim?
g)      Existe alguma relação entre a situação vivida pela família da crônica e a de nossos dias?
h)      No texto há ideia de discriminação? Justifique sua resposta.
6 Trabalhar a intertextualidade, usando o poema de Manoel Bandeira  “ O último poema
O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manoel Bandeira
7Escrever um texto individual , sobre algum acontecimento do dia a dia do aluno, que ele considera importante.


 Essa Sequência Didática foi realizada pelas cursistas Cinthia Matos e Claudineia Civitanova

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